Aqui vai o segundo capítulo da fic "Lápis nº2", escrita pela Paulinha! Boas leituras ;)
Em geral, eu gostava do Sr. Banner, o professor de Literatura. Ele sabia que noventa por cento da turma tinha mais coisa na cabeça do que a matéria dele, principalmente no horário antes do almoço, então fazia vista grossa para as pessoas que comiam disfarçadamente e sempre nos deixava sair mais cedo.
Mas quando, na segunda feira seguinte, ele inventou de segurar a turma para tentar fazer com que nós gostasse-mos de Hamlet, eu fiquei com muita vontade de enforcá-lo. Ou de convencê-lo a se aposentar.
Quando ele finalmente nos deixou sair, com quase quinze minutos de atraso, eu voei em direção ao refeitório, já imaginando a cara de impaciência de Alice. Quando finalmente a localizei no meio daquela multidão que lotava o refeitório, no entanto, meu queixo caiu.
Ela não estava na nossa mesa de sempre, nem conversando com Erik sobre algum trabalho qualquer.
Não. Ah, não. Ela tinha que estar sentada na mesa de Edward Cullen, conversando animadamente com ele como se fossem vizinhos.
Peguei meu almoço e me aproximei da mesa, gemendo. Edward ergueu os olhos quando eu me aproximei, e eu me senti corar. A bochecha de Alice se ergueu pouco, como se ela estivesse sorrindo, mas ela continuou falando.
- Então, Edward, não tenho certeza sobre essa parte dos anelídeos também...
Ele abaixou os olhos para o papel que Alice empurrava na direção dele e leu rapidamente.
- Essa parte aqui tá errada. Os anelídeos são celomados, não pseudocelomados, e protostômios com sistema digestório completo. Só os cordados são deuterostômicos.
Enquanto ele falava, Alice olhou para mim e deu um chute de leve na cadeira ao lado de Edward, de forma que ela chegou um pouco para frente. Procurei outra para me sentar, mas aquela era a única disponível. Com um olhar de censura para Alice, me sentei na cadeira.
Ela olhou para Edward quando ele terminou de falar, com cara de ter entendido. Eu tinha certeza de que eu estava com cara de interrogação. Deuteroquê?
- Ok, muito obrigada, Edward. – ela agradeceu e virou o rosto para mim. – Isso são horas, Bella?
- Culpa do Sr. Banner. – respondi, tentando ignorar Edward me olhando de canto de olho enquanto comia. – Ele ficou noventa anos tentando nos convencer de que Hamlet é bom, e agora eu simplesmente odeio Hamlet.
Ficou mais difícil ignorar Edward agora que ele me olhava abertamente, mas eu fiz um esforço para não encará-lo.
Alice riu alto.
- Bom, tenho que ir consertar esses anelídeos. Vou indo.
Ela se levantou da mesa sob meus olhares furiosos e se afastou praticamente gargalhando. Eu olhei para Edward de rabo de olho, sentindo todo o meu rosto queimar e sem ter a menor ideia do que fazer. Seria grosseiro me levantar e sair, mas eu tinha certeza de que ele não fazia questão da companhia.
Eu estava a ponto de perguntar se ele queria que eu saísse quando ele quebrou o silêncio.
- “O mundo não é eterno e tudo tem um prazo; nossas vontades mudam nas viradas do acaso. Pois essa é ainda uma questão não resolvida: a vida faz o amor ou é o amor que faz a vida? A quem não precisa nunca falta uma amizade, mas quem mais precisa só experimenta falsidade e encontra, oculto no amigo, um inimigo antigo.” – seus olhos tinham um certo brilho enquanto ele declamava, olhando para mim. Senti meu coração dar um salto.
- Que... bonito. – me esforcei para dizer, lutando com as palavras. – Foi você que escreveu?
Ele sacudiu a cabeça.
- É Hamlet.
Meu estômago afundou.
- Ah. Talvez não seja tão mau, então. – respondi, meio sem jeito. Ele olhou para o próprio prato e eu enfiei uma garfada na boca, sem sentir o gosto da comida direito. Isso estava sendo um desastre.
Edward ergueu o rosto de novo e olhou para mim.
- Desculpe. Não era minha intenção deixar-te sem graça.
Olhei para ele e mastiguei depressa para poder responder.
- Não tem problema.
Ele abriu a boca para dizer algo, mas mudou de ideia. Ficamos em um silêncio desconfortável (pelo menos para mim) até que Edward terminou de comer.
- Você se importa? Tenho que revisar um dever de casa. – ele perguntou enquanto levantava da mesa. Eu fiz que não com a cabeça. – Desculpe mesmo por aquela hora. Não era minha intenção...
- Não tem problema. – eu repeti. Ele me encarou por um minuto, como se para descobrir se realmente não tinha problema, e então acenou com a cabeça e foi andando.
Pus as mãos na cabeça para me recuperar da tontura e me lembrei de soltar o ar, que eu estava segurando desde que aqueles olhos verdes tinham pousado nos meus.
Tudo bem, aquilo fora um desastre completo. Totalmente desconfortável. Mas pelo menos eu não tinha estragado nada ainda. E de pelo menos um risco eu já tinha me livrado: Edward realmente era o que eu imaginava. Ele me pediu desculpas. Ele pediu licenças para se levantar da mesa. E aí ele pediu desculpas de novo! Ele era um perfeito cavalheiro, e definitivamente era preciso ser cega para não ver que ele era um rapaz bonito. Ou seja: Edward era perfeitamente “apaixonável”.
Suspirei e olhei ao redor, para me garantir de que era seguro sorrir. Alice não poderia me ver sorrindo assim, porque senão ia saber que seu planinho “maléfico” estava dando certo. E, mais uma vez, eu preferia enfiar farpas de bambu debaixo das unhas a admitir que estava gostando do que ela estava a fazer.
Twikiss :)
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