
Boas leituras ;)
A pior parte da detenção só aconteceu depois que eu cheguei em casa: ver o desapontamento e o choque no rosto de Charlie quando ele assinou minha ocorrência e me perguntou como tinha sido a detenção. Eu preferia que ele tivesse gritado comigo e me deixado um mês de castigo; pelo menos a culpa seria menor.
Será que o pai de Edward tinha reagido assim também? Ou ele tinha gritado? Ou será que ele não dissera nada, porque já tinha falado tudo o que precisava pelo telefone? Eu não conseguia para de pensar em Edward e em como seu pai estaria reagindo.
Na verdade, eu não conseguia parar de pensar em Edward, ponto.
Eu estava ficando mais convicta de que Edward não gostava de Alice, por alguma estranha razão. As coisas pareciam estar certas pensando desse jeito, apesar de que não se encaixavam. Por que então ele estava nos olhando esquisito na mesa? E por que ele tinha comentado que tinha inveja de mim na detenção, e o motivo era Alice?
Isso era demais para minha cabeça. Eu preferia pensar nas coisas de uma forma leve que me deixava feliz em relação a Edward, como o jeito como ele era cavalheiro, as voltas charmosamente bagunçadas do seu cabelo, ou aquele primeiro dia, em que ele me dera o lápis...
- Bella? Você está bem? – meu pai me chamou, provavelmente notando que eu estava meio fora do ar. Ficar devaneando durante o jantar dava nisso.
- Estou sim, pai, só distraída. – respondi. Charlie resmungou e continuou comendo, mas havia alguma coisa no silêncio dele. Alguma coisa que ele tinha que contar. Resolvi pressioná-lo. – Você está bem, pai?
Ele me olhou surpreso, como se tentando entender como eu descobrira. Eu vivia com meu pai havia dez anos; isso era tempo o bastante para conseguir lê-lo. Eu devolvi o olhar e ele suspirou, pousando o garfo no prato.
- Sua mãe ligou-me enquanto você estava na detenção.
Meus músculos se enrijeceram ligeiramente.
- E o que ela queria?
- Só falar com você. – pelo tom de voz, Charlie parecia estar tentando me acalmar. Ou seja: alguma coisa estava errada aí.
- Ah, é? – perguntei, pousando meu garfo na beirada do prato. – Sabe sobre o que ela queria falar?
- Acho que... – Charlie pigarreou. Mau sinal. - ela quer que você passe o próximo fim de semana na casa dela.
Ergui a sobrancelha e fiz uma conta rápida mentalmente. Aquele fim de semana já era de Reneé, por que ela estava me pedindo para ir lá? A resposta era óbvia: alguma coisa estava errada, e ela queria me contar devagar.
Charlie estava me olhando de forma preocupada, então eu fiz o possível para controlar minha expressão. Levantei a outra sobrancelha, fiz uma cara de ligeira indiferença e peguei o garfo de novo.
- Vou ligar para ela depois. – olhei para o prato, sem muita vontade de comer. – Acho que já terminei.
Me levantei, levei meu prato para a pia e fui para o meu quarto, tentando não pensar naquilo. O que quer que minha mãe tivesse que me contar, ela me contaria na semana seguinte. Me sentei na cama, peguei o telefone e comecei a discar o número da minha mãe, mas não terminei. Não era uma boa ideia ligar para ela agora. Eu provavelmente iria me descontrolar e fazê-la contar-me por telefone.
Joguei o aparelho na mesa de cabeceira e me deitei na cama, sem vontade de fazer nada. Já era tarde da noite – Charlie havia demorado a chegar em casa – e o dia havia sido estressante, com a história de detenção e agora com isso da minha mãe. Torci o pescoço para olhar o relógio: nove e trinta e sete.
Suspirando, arrastei-me da cama e fui até o banheiro para tomar um banho quente e relaxante. Arrastei-me de volta para o quarto quando terminei e me joguei na cama, mergulhando satisfeita na inconsciência em poucos minutos.
Acordar no dia seguinte não foi fácil, mas poderia ter sido mais difícil. O primeiro pensamento que me ocorreu quando o despertador tocou foi “porcaria de despertador do inferno”. O segundo foi “seca, hoje tenho Biologia”. E o terceiro foi “Pera, Edward está na minha sala de Biologia!”.
Depois disso, saltar da cama e me vestir apressada foi fácil. Tomei meu café correndo e esperei por Alice na porta. Às sextas-feiras ela dava-me boleia para a escola, porque íamos direto para o shopping depois da aula. Não que eu (ou Charlie) achasse que esse fosse um bom hábito, mas era Alice.
Ela chegou na hora de sempre e eu pulei para o carro com um sorriso meio abobalhado, que ela não deixou de notar.
- Alguém está de bom humor hoje. – ela comentou enquanto dava partida. – Parece que a detenção te fez bem.
- É, acho que sim. – respondi, ainda sorrindo, e não consegui ouvir seu próximo comentário, porque comecei a devanear sobre a aula de Biologia. Teríamos prática em dupla hoje, e eu tinha a desculpa perfeita para chamar Edward – eu era uma negação em Biologia. De repente ele...
- Bella, estás-me a ouvir? – Alice chamou de repente, me olhando com a sobrancelha arqueada.
- Oi? Estou, estou sim! –me apressei em responder, fazendo um esforço para me lembrar do assunto, mas sem sucesso.
- Então você não importa, não é?
- Han... – respondi, mordendo o lábio. Eu nem sabia com o que eu não me importava.
Alice estreitou os olhos.
- Sabia que você não estava ouvindo! – eu suspirei e Alice continuou. – Enfim, chamei Jazz e Rose para irem ao shopping com a gente. Você não se importa, certo?
- Não, claro que não. – respondi, e depois parei para pensar no assunto. Se Rosalie fosse com a gente, Alice teria alguém em quem descarregar sua obsessão por compras – alguém que corresponderia – e eu não ia ter que servir de boneca. Além disso, ainda tinha Jasper para distraí-la de sua obsessão. Realmente não era má ideia os dois nos acompanharem.
Entramos no estacionamento da escola, e eu não consegui me impedir de procurar Edward. Virei minha cabeça para todos os lados, mas não o encontrei em lugar algum, então me arrastei infeliz para meu primeiro horário, esperando que este e o próximo passassem rápido para o terceiro horário chegar.
Eles realmente passaram num borrão, mas de nada adiantou: Edward também não estava na aula de Biologia. Eu cheguei dez minutos mais cedo à sala e a cada vez que um aluno abria a porta eu prendia a respiração, para soltá-la logo em seguida ao ver que não era ele. Por fim, o professor entrou e fechou a porta, começando a aula, e Edward não chegou.
Acabei fazendo dupla com Mike Newton, que se sentara ao meu lado e conseguia se confundir mais do que eu com os dois espécimes de lombrigas no microscópio. Eu podia sentir as olhadas furiosas de Jessica Stanley em minha nuca.
Não havia sentido esperar que Edward estivesse no almoço, mas mesmo assim eu não consegui me impedir de procurá-lo quando cheguei ao refeitório. Ele não estava em lugar algum, claro, e eu fui pegar o meu almoço frustrada.
Alice chegou depois de mim, parecendo estar tendo um dia normal. Ela começou a falar animadamente sobre o que ela e Jasper pretendiam fazer nas férias, mas parou quando viu minha expressão desanimada.
- Que foi, Bella? – Alice perguntou, me olhando. Eu corei ao pensar na resposta; estava ficando obcecada demais.
- Você viu Edward hoje?
Alice soltou um risinho quando eu falei e seu tom de voz quando me respondeu era mais calmo.
- Não, não vi. O que é estranho, porque o armário dele é perto do meu.
Como é que é?
- Como assim, o armário dele é perto do seu? – perguntei, um pouco alto demais. – Por que você nunca comentou isso?
Alice riu da minha exaltação.
- Nunca surgiu oportunidade!
Rolei meus olhos e mordi o lábio. Então ele realmente não tinha vindo – porquê?
- Me pergunto por que ele estaria faltando. – Alice resmungou, e eu concordei com a cabeça, tentando me lembrar de ele ter dito alguma coisa sobre faltar à aula. Ele tinha um trabalho para entregar hoje (pelo menos ele disse que tinha), então era estranho que ele faltasse.
Olhei ao redor mais uma vez, só para ter certeza de que ele não estava ali.
- Sabe, eu te liguei ontem pra perguntar como foi a detenção, mas Charlie disse que você estava estudando. – Alice começou, com um tom de cobrança. Eu olhei para ela de novo, suas palavras repentinamente me lembrando de um assunto que eu não queria lembrar.
- Ele deve ter engolido o recado. – respondi, controlando a voz e tentando empurrar os pensamentos para longe antes que Alice percebesse.
Mas era Alice, minha melhor amiga durante dez anos, então isso era uma tarefa impossível.
- Está tudo bem, Bella? – ela perguntou, com a voz mais preocupada do que antes. Eu sacudi a cabeça afirmativamente, mas ela continuou me olhando. – Anda, Bella, desembucha.
Eu olhei para ela, indecisa. Seus olhos mostravam preocupação e carinho, e eu suspirei. Não queria preocupar Alice.
- Minha mãe me ligou ontem. – contei, por fim. Alice ergueu as sobrancelhas.
- O que ela queria?
Repeti o que Charlie me disse para Alice, e falei sobre a minha preocupação. Alice arredou sua cadeira para mais perto da minha e segurou minha mão.
- Não deve ser nada, Bella. – ela falou, num tom reconfortante. Minha garganta fechou.
- Da outra vez que ela me telefonou, foi algo muito sério. – respondi, com a voz fraca, e meus olhos ficaram molhados quando falei a próxima frase. – Foi pra me contar que ela estava doente. E se tiver piorado muito agora?
Minha mãe tinha uma doença rara no sangue, que iria evoluir cada vez mais. Ela descobrira isso havia dez anos e garantira que, fora ela, Phil e Charlie, eu fosse a primeira pessoa a saber.
Eu estava passando o fim de semana com Charlie, como era de costume. Meus pais haviam se separado quando eu tinha quatro anos, e eu fora morar com minha mãe. Quando eu tinha sete, a mãe casou-se de novo com Phil, um ex-jogador de beisebol que interrompeu sua carreira quando rompeu o ligamento do ombro pela terceira vez. Agora ele trabalhava num jornal local, escrevendo a coluna do desporto. Phil era óptimo para minha mãe, e isso era o bastante para mim, apesar de ele sempre tentar ser um bom padrasto.
Eu estava ajudando meu pai com o almoço quando o telefone tocou. Talvez seja estranho uma criança de sete anos ajudando na cozinha, mas tudo o que eu tinha que fazer era tirar a lasanha do pacote e colocar no micro-ondas. Meu pai sempre destruía um pedaço da comida para tirar do pacote, e eu estava mostrando a ele como fazer isso de forma civilizada.
Ele resmungou alguma coisa sobre comida congelada e foi atender o telefone, enquanto eu terminava o processo sozinha. Dois minutos depois, ele me chamou, dizendo que o telefone era para mim. A minha mãe perguntou-me se eu queria ir ao cinema à noite, e eu aceitei satisfeita. Cinema com ela e Phil era sempre óptimo.
Só comecei a me preocupar quando eles insistiram em me comprar um urso de peluche, depois de passarem o dia a comprarem-me gelados. Nessa hora, bati o pé e insisti que eles me contassem o que estava acontecendo. Minha mãe me levou para casa, dizendo que me contaria lá. Lembro-me até hoje de cada palavra que ela disse, e a lembrança ainda me faz chorar.
- Bella, querida... – ela começara, se abaixando na minha frente até ficar com o rosto na altura do meu. Ela fez uma pausa, suspirou e me abraçou. – Eu te amo muito, está? Nunca se esqueça disso.
Eu a abracei de volta, sem entender. Quando ela me soltou, seus olhos estavam molhados de lágrimas, e isso me deu vontade de chorar também, mesmo sem saber porquê. Minha mãe sorriu tristemente, secando meu rosto com a mão, e me disse para não chorar.
Suas palavras seguintes me deixaram completamente sem chão.
- Eu fui ao médico outro dia para olhar aquelas coisas que estavam acontecendo comigo – aquelas coisas eram desmaios que ela estava tendo – e ele pediu um exame, e o resultado chegou a semana passada.
Ela fez uma pausa e eu prendi a respiração, nervosa.
- De acordo com o exame – ela recomeçou -, algumas células do meu sangue não funcionam direito, e isso atrapalha o funcionamento de todo o meu corpo. Por isso eu estava passando mal.
- Mas você vai ficar bem? – perguntei, e lembro que seus olhos se encheram de lágrimas.
- É provável. – ela respondeu, e segurou minhas mãos com as dela. – Mas eu vou ter que fazer vários tratamentos para isso. E por isso...
Ela fez uma pausa e olhou para Phil, que estivera parado na porta durante a conversa, pedindo ajuda. Phil se aproximou de nós e pôs a mão em seu ombro.
- Nós achamos que será melhor para você passar um tempo com o seu pai. – ele continuou por ela. Eu olhei para Phil, e por um momento fiquei com raiva dele, considerando que ele estava tentando me afastar da minha mãe. Mas isso durou pouco, e eu logo entendi que eles não queriam que eu tivesse que passar pela confusão dos cuidados médicos de minha mãe, nem pela agonia da ver a doença enfraquecendo-a com o tempo.
Assenti, fazendo esforço para conter minhas lágrimas, e minha mãe me abraçou. Duas semanas depois, eu estava me mudando para a casa de Charlie.
Só percebi que meus olhos estavam cheios de lágrimas quando uma delas escorreu pela minha bochecha. Eu funguei, nervosa por estar chorando no meio do refeitório, e Alice apertou minha mão novamente..
- Bella. – ela me chamou, e eu ergui os olhos. Alice me olhou com o mesmo olhar de carinho que me olhara antes. – Eu estou aqui com você, está bem? Sempre vou estar.
Eu não conseguia agradecer, apenas pisquei com força e limpei a lágrima com as costas da mão enquanto ela passava o braço pelo meu ombro e me abraçava.
Twikiss :)
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