
Mais um capítulo da "Lápis nº2"! Boas leituras :)
- Detenção?! – a voz de Charlie era incrédula quando eu contei para ele durante o almoço.
- É. E já que estamos falando disso... – tomei fôlego para terminar de contar a notícia. – Você vai ter que assinar uma ocorrência quando eu chegar em casa.
- Ocorrência?! – mais uma vez, o tom incrédulo.
- É, eu... esqueci um trabalho de casa.
Mordi o lábio quando ouvi Charlie respirar fundo. Lá vinha coisa.
- Bella, eu fico muito feliz que você tenha feito novos amigos e esteja saindo mais de casa. Mas se isso estiver te atrapalhando na escola, vou ter que parar isso. Formar-se ainda é a sua prioridade na vida, certo?
- É, pai! – eu afirmei, surpresa com a pergunta. – Foi só um deslize. Até o mais forte de nós cai do galho, não é?
Ele pareceu aliviado com o meu tom veemente e me desejou boas aulas antes de desligar. Suspirei e guardei o telefone no bolso. Poderia ter sido bem pior.
- Ele foi até rápido, não? – perguntou Alice, ecoando meus pensamentos. Eu olhei para ela, que segurava uma batata frita e a balançava de um lado para o outro, e tentei controlar a raiva irracional que eu estava começando a sentir dela. “Não é culpa de Alice eu estar de detenção”, eu ficava repetindo para mim mesma, mas uma vozinha irritante me dizia que, se não fosse por ela, Edward não teria me mandado o bilhete pecaminoso.
Olhei para a mesa dele por cima do ombro quando me lembrei de que ele também teria que falar com o pai. Pelo visto sua situação era pior do que a minha: ele tinha começado a ligação antes de mim e ainda estava no telefone. Sua mão voava pelo cabelo já desgrenhado – toda vez que fazia isso, parecia nervoso – e ele respirava pesadamente, ou assim parecia pelo modo como seus ombros balançavam.
Voltei os olhos para o meu prato. Fim do assunto Edward. Depois da aula de Espanhol, eu fiz o possível para parar de pensar nele. Ele que mandasse seus bilhetes sobre Alice para outra pessoa, eu nem queria mais saber.
Alice percebeu meu humor.
- Bella, uma detenção não é motivo para essa cara fechada.
- É sim. – respondi, fechando ainda mais a cara. Não que o motivo fosse apenas a detenção, mas ela não precisava saber de tudo. – Vai para o meu histórico, sabias?
Alice revirou os olhos.
- Isso corta Harvard e Yale, mas Princeton ainda está dentro, não?
Foi a minha vez de revirar os olhos.
- Como se eu fosse entrar em alguma dessas.
- Você tem muito mais chance do que eu, com meu histórico cheio de deveres não feitos.
- Pede os nerds para corrigirem para você. – sugeri, com um sorriso de deboche. Alice me deu a língua e riu, atirando a batata em minha direção. Eu soltei uma risada e me abaixei para me esquivar. Quando me levantei de novo, um par de olhos verdes atrás de Alice chamou minha atenção.
Edward estava olhando para nós, com uma expressão estranha. Olhei para ele por um curto espaço de tempo, acenei com a cabeça e voltei os olhos para minha bandeja de comida de novo. Alice ainda estava rindo, e eu dei um sorrisinho fraco para ela.
O resto do dia passou como um borrão. Cada vez que eu olhava para o relógio ele parecia ter saltado vinte minutos, apesar dos meus esforços mentais inúteis para que ele andasse mais devagar. Infelizmente (e eu nunca pensei que fosse dizer isso), a última aula do dia chegou ao fim. Arrastei-me para fora da sala, acenando tristemente para Angela, que saía para aproveitar sua liberdade, e procurei a sala de detenção. Pelo que a Sra. Goff me explicara, a sala era perto da sala dos professores, mas numa parte da escola a que eu nunca havia ido.
Encontrei a sala por fim, e tive certeza disso quando vi Edward parado à porta, de olhos fechados e respirando fundo. Caminhei até o seu lado.
- Oi, Edward.
Ele deu um pulo para trás, todo o seu corpo estremecendo, e olhou para mim com olhos arregalados.
- Nunca mais faça isso.
Soltei um risinho nervoso e cruzei os braços enquanto observava-o passar as mãos pelo cabelo, visivelmente nervoso.
- A preparar-se para entrar?
- Com certeza. É aterrorizante. – ele respondeu, expirando pesadamente
Eu concordei.
- Requer coragem.
Edward olhou para mim e riu de lado. Não consegui acreditar, mas, mesmo já acelerado pela situação aterrorizante, meu coração conseguiu bater em um ritmo diferente por causa do sorriso. Demorei a perceber que Edward parecia achar graça em alguma coisa.
- O que foi?
- Nós somos ridículos. Dois nerds com medo de entrar na detenção.
Eu sabia que era estúpido, eu sabia que não era um bom motivo, mas o jeito como ele dissera “nós” mandara uma corrente elétrica pela minha coluna, me deixando arrepiada. Era exagero, mas me fazia imaginar nós dois juntos. Mas eu sabia que não ia passar disso – imaginação. Eu tinha motivos para ter certeza disso, e sabia que era melhor não deixar minhas expectativas subirem demais.
- Nos vestimos bem demais para sermos nerds, de acordo com Alice. – respondi ao seu comentário com um pouco de azedume demais. Edward juntou as sobrancelhas, franziu os lábios e deixou um nome escapar entre eles.
- Alice...
Seus dedos correram pelo seu cabelo de novo e o silêncio que se seguiu era carregado de tensão. Ele se virou e olhou para mim de novo, fazendo meu coração estúpido voltar a bater depressa.
- Bella... – ele começou, levando a mão à nuca. Meu coração deu um salto por causa do jeito como ele disse meu nome. Coração estúpido. – Vamos fazer isso juntos, ok?
Mais uma vez, suas palavras fizeram minha mente se encher de imagens, e eu tive que me concentrar para entender do que ele estava falando.
- Q-que?
- Vamos... entrar na sala juntos. – ele sugeriu, e então um sorriso brincou em seus lábios. - E de cabeça erguida, afinal nós somos dois encrenqueiros que foram mandados para a detenção.
O sorriso dele, apesar de ter um toque de nervosismo, era de divertido e convidava a relaxar. Mas eu não queria me arriscar, me deixando levar por seus sorrisos irresistíveis, então apenas concordei com a cabeça. Edward ergueu as sobrancelhas, seu sorriso caindo, e abriu a porta.
- Sr. Cullen, Srta. Swan. – disse uma mulher ruiva sentada atrás da mesa do professor, com o pescoço torcido para olhar para nós. – Finalmente resolveram se juntar a nós.
Edward entrou na sala e eu o segui, fechando a porta atrás de nós. A plaquinha na mesa do professor dizia que a mulher era a Srta. Stroup. Eu a conhecia apenas de nome: ela era a professora de Francês da escola.
Examinei a sala com o olhar. No quadro, estavam escritas as regras da detenção: “Nada de conversas, nada de aparelhos de música, nada de telemóveis”. Do lado esquerdo havia uma foto enorme da capa de “Crime e Castigo”, de Jane Austen. Do outro lado, um cartaz escrito “não cometa o crime se não pode pagar o preço”. Conveniente para uma sala de detenção. Virei o rosto e olhei e olhei para as carteiras. Metade estava ocupada, metade estava vazia. A maior parte das vazias era na frente.
Edward cutucou meu cotovelo e apontou para a mesa da Srta. Stroup. Havia um papel para eu assinar em cima da mesa. Escrevi meu nome nos meus garranchos embaixo da letra caprichada de Edward e me sentei na cadeira ao seu lado.
Ele abriu a boca para me chamar, mas a Srta. Stroup falou antes dele.
- Primeira frase no quadro, Sr. Cullen.
Olhei para ela com olhos arregalados. Ela nem estava olhando para nós!
Alguns rapazes atrás de nós soltaram risadinhas e Edward suspirou. Pelo visto, tudo o que eu tinha a fazer era encarar a decoração. Ou o meu dever de casa, mas eu não estava com humor para trigonometria. Suspirei também e tentei me distrair procurando padrões nos desenhos aleatórios da mesa de madeira.
Depois de quinze minutos de tédio total e absoluto, a Srta. Stroup se levantou.
- Muito bem, rapazes... e rapariga. – ela acrescentou, olhando para mim, e eu percebi corando que era a única rapariga ali. - Eu tenho que dar um pulo na sala dos professores. Fiquem quietinhos que eu já volto, tudo bem?
Ela nos olhou severamente, murmurou “até parece” e saiu da sala.
Foi automático: a porta se fechou e a sala se tornou outra. Edward relaxou da postura tensa, eu escorreguei na cadeira e os meninos atrás de nós começaram a conversar. Um deles eu conhecia: Tyler, que fazia Educação Física comigo. Os outros, eu nunca tinha visto na vida.
- Isabella Swan! – Tyler chamou me chamou, com um sorrisinho irônico nos lábios. – Resolveu se revelar?
Eu dei um risinho sem graça, nem um pouco afim de manter um diálogo com ele. Ele insistiu.
- Não, sério. O que você fez?
Suspirei, tentando achar paciência, e abrigar a boca para responder, mas Edward foi mais rápido.
- Culpa minha. Mandei um bilhete pra ela na aula da Sra. Goff.
Tyler olhou para ele com uma cara de desagrado.
- Uuh, Sra. Goff e bilhetes não combinam. – respondeu um cara de cabelo castanho atrás de Tyler, rindo e balançando a cabeça. – É melhor sussurrar mesmo. Acho que a velha fica curiosa com bilhetes.
Os rapazes atrás deles riram e Edward esboçou um sorriso. Eu revirei os olhos. Eles começaram a discutir os motivos para estarem lá e a disputar quem tinha feito o mais “arriscado”. Eu me virei para frente de novo, tentando ignorar a conversa. Fechei os olhos, deitei sobre a mesa e apoiei o queixo nas mãos.
Ergui o rosto de novo apenas quando senti um toque no cotovelo, e me deparei com o rosto de Edward me encarando. Mais uma vez, o estúpido batimento acelerado. Eu ergui o tronco da mesa e me estiquei.
- Bella, está tudo bem? – Edward perguntou, num tom baixo para que os meninos atrás de nós não ouvissem. Eu precisei pensar para responder
- Fora a detenção, eu estou bem. – respondi, um pouco amarga. Pensei que ele fosse rir do meu tom, mas ele continuou sério.
- Não é tão ruim quanto eu pensei que fosse.
Revirei os olhos de novo.
- Realmente, você parecia estar com uma cara mais desanimada no almoço.
Ele fez uma careta, e eu me arrependi pela minha aspereza. Estar na detenção não era exatamente o melhor do meu dia, e ver Edward todo alegrinho conversando com os rapazes não me ajudava. Por alguma razão, eu não gostava disso. Mas não era culpa dele eu estar mal-humorada.
- É, meu pai pegou pesado. – Edward esclareceu, ainda fazendo careta.
- Por isso você estava com aquela cara? – perguntei. Um brilho de surpresa perpassou seus olhos.
- Não, isso foi por outra coisa... – Ele pareceu fazer esforço para encontrar as palavras. – Às vezes eu meio que... invejo você.
- Porquê?! – perguntei, um pouco mais alto do que a altura em que estávamos conversando. Os rapazes se limitaram a olhar de rabo de olho para nós e continuaram sua própria conversa.
Edward passou a mão pelo cabelo uma vez e respirou fundo. Ele não precisou dizer pra eu saber o motivo.
- Alice. – verbalizei por ele, rolando os olhos. Edward me olhou de novo, dessa vez com um brilho de intuição nos olhos.
- Aconteceu alguma coisa entre vocês?
Eu olhei para ele de novo, seus olhos verdes brilhando com intensidade como se ele tentasse descobrir alguma coisa nos meus, e tentei manter a coerência.
- Porquê a pergunta?
- Toda vez que você fala o nome dela, sei lá, parece que você engasga. Como se te incomodasse de algum jeito..
Eu não tinha ideia de que Edward era tão perceptivo. Ele continuou me encarando e eu mordi o lábio e olhei para o chão, procurando alguma coisa para dizer.
- Não aconteceu nada. – respondi, um pouco mais áspera do que eu planejava. Edward sussurrou um “tudo bem” e olhou para a mesa. Eu suspirei, arrependida de ter sido grossa com ele.
- Desculpe, Edward.
- Eu não devia ter me metido. – ele respondeu, e deu um sorrisinho de lado. – Sua paciência com ela é admirável.
- Hein?!
Tudo bem, tudo bem, ele usa termos como “admirável” numa frase e minha resposta brilhante é “hein”. Mas o que eu podia fazer? A pergunta era confusa demais pra mim. Edward riu baixo.
- Ela é bem... insistente. E eu nunca te vi estressada com ela.
Não consegui reprimir uma risadinha. Insistente; era um bom jeito de colocar isso.
- Eu a conheço desde que tenho sete anos. Já estou acostumada.
- Acho que eu não agüentaria sem estressar com ela uma ou duas vezes.
Eu pude sentir meus músculos compondo uma careta de confusão, mas foi impossível desfazê-la. Não tinha sentido; Edward gostava de Alice, por que ele estava falando isso? Só se...
Não, nada de subir as expectativas. Nada de inventar possibilidades. Nada de criar oportunidades de se decepcionar. Minha política era essa. Mesmo assim, quando eu pensava que era possível de Edward não gostasse de Alice, eu me sentia tão leve.
Olhei para Edward de novo. Ele não parecia estar tentando esconder nada, nem falando com ironia nem nada. Parecia que ele realmente queria dizer que Alice era irritante. Eu o encarei da mesma forma que ele me encarara antes, como se quisesse descobrir alguma coisa nos meus olhos, e o que eu encontre lá foi o suficiente para me convencer.
Senti o sorriso besta se formar nos meus lábios, mas não consegui impedi-lo. Edward me olhou com uma cara engraçada, como se estivesse achando graça no meu sorriso besta mas não quisesse rir. Ele que risse, eu não ia ligar. Eu ia era rir com ele, me levantar e sair dando piruetas; minha vontade era essa.
Mas claro que eu não fiz isso, porque naquela mesma hora a Srta. Stroup entrou na sala e a conversa teve que cessar. Eu olhei para Edward pelo canto de olho, ainda com o sorriso no rosto, e ele revirou os olhos, como quem dizia: “ok, mais meia hora de tédio”. Meu humor estava tão bom que, por mim, poderia ser mais uma semana inteira: pelo menos eu teria um motivo para ficar perto dele.
P.S. - Então, o que estão a achar da fic?
Twikiss :)
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